quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Depois da Tempestade

A vida segue de maneira trágica
Com falsos sorrisos,
apertos de mão e tapinhas no ombro.
Ouço tantos gritos,
lembro-me de cada detalhe.
Não dá para esquecer nenhuma cena dessa novela
Nenhuma peça desse cenário.
Personagens desfigurados,
gélidos.
Lembro-me da chuva pesada caindo,
esmagando, devorando tudo,
chorando pedras de gelo.
O barulho ensurdecedor dos carros,
as sirenes.
As pedras gemendo.
Uma despedida precoce.
Um adeus ou um até logo.
Vida nova.

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Enfatizando um Fim de Tarde

Os dias passam com cor de nostalgia
Olho para o tempo com cara de paisagem
Mergulho nessa sensação perversa
Lembranças frágeis
Os tropeços, as mãos que me ergueram
O fim do túnel,
Um buraco quase sem fundo,
Uma pequena chance,
Uma nova visão.
Apenas um breve adeus,
um breve desatino,
angústia,
um resquício de insensatez...

domingo, 15 de novembro de 2009

Pra Não Falar de Nada

Foi um passado presente
Viveu no momento errado
Foi o que deveria ter sido
Uma verdadeira mentira
Uma pequena passagem
Um capítulo
Uma memória
Viveu no centro dessa margem
Virou fotografia
Virou Carnaval do ano passado
Recordação
Lembrancinha
Enfeite de prateleira
Guardado na gaveta
Preso no armário
Foi, Viveu, Virou, Acabou
Passado

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Acinzentado

Acordo um céu azul de tão cinza,
Um mar estrelado de tanta falta de cor
Um tom
Experimentar o gosto
Absorver
Inchar
Explodir
Dúvidas, interrogações, perguntas
Um mundo delas!
Mas as respostas...
Estas já não querem mais saber de mim
voaram para longe
como pássaros brilhantes voando, voando...
Observo suas asas
sinto a brisa seca,
a temperatura alta,
e as asas...
Penso nos dias passados,
penso no tempo,
nas asas voando...
A dúvida, o fim do pensamento
as asas correndo,
um dia de claridade escurecer
A água tão cinza escorrendo,
bebemos
por não ter mais nada o que beber.

sábado, 3 de outubro de 2009

...

Uma frase pela metade,
As lembranças da semana.
Uma ave negra,
uma noite nublada,
um travesseiro,
uma garrafa.

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Foto-Melancolia

Que retrato és tu?
Não retrata o teu original.
Não espelha a realidade,
não capta a essência,
não se assemelha,
como esse poema,
que fiz apenas pensando em esquecer.
Criei a cena,
o espetáculo,
carreguei nas costas, o palco,
para que final?
Joguei toda a tralha no banco de trás do carro,
fechei no porta-luvas todos os meus armários,
trancafiei lá dentro também tudo o que existia de bom
dentro de mim.
Abri na lataria um buraco pra deixar tudo escapar devagarinho,
sem deixar vestígios,
fechei as portas e joguei toda a vida fora,
como um pedaço de papel
que voou com o vento que entrou pela minha janela.

domingo, 27 de setembro de 2009

Quando Falta um Coração

Acordo com todos os fantasmas ao redor,
O dia parece frio lá fora,
Só falta dar mais um passo,
Falta apenas abrir os olhos,
Falta um pouco de ar pra respirar.
Parece que tudo está fora da realidade,
sinto-me ofegante,
o corpo cansado,
A cabeça doente,
Insônia profunda,
Os olhos inchados,
As lágrimas nas pontas dos dedos.
Matei um pedaço meu para continuar vivendo,
Adormeci no meu velório,
As bocas inflamadas de palavras,
Os olhares distorcidos.
Olham para mim é não enxergam ninguém,
porque parte de mim grita,
enquanto a outra parte apenas chora.
A vida segue seu curso como o de um rio,
para as profundezas da morte,
para a solidão.
O tempo continua correndo no relógio
como se nada tivesse acontecido.
O sol continua sorrindo.
Queria um dia menos feliz para justificar o meu
não sorrir,
Queria chover para ser só chuva correndo pro mar.

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Flor da Saudade

No mesmo canto,
observando tudo,
na sacada,
do alto,
de cima do muro.
Surreal,
saber que não estou sozinho dentro de mim.
Do lado de fora ouço os gritos abafados,
ouço o som dos carros,
as pessoas conversando.
Vejo a vida passar.
O céu se encerra sobre minha cabeça,
o tempo se fecha,
chove,
fecho a porta,
um número,
aquele mesmo de tanto tempo,
a mesma casa, na mesma rua,
o mesmo sentimento.
A vida se move do lado de fora,
enquanto eu me fecho aqui dentro.
As ruas mudam de lugar,
as palavras doces,
o coração fechado,
a alma que sangra,
um cigarro.
Vejo de longe,
através da fumaça,
seus olhos acesos,
Estou na sacada,
te esperando.
Mas você não vem,
por que você não passa?
Esqueci que você não sabe meu endereço,
mas eu espero,
estou na sacada olhando para você,
mas você nem nota,
Você não sabe que sou eu,
Paciência,
Ainda conserto tudo,
a curiosidade se expande,
Será que ela não sabe?
A rua,
a sacada,
a Flor da Saudade.

sábado, 19 de setembro de 2009

Seria Óbvio

Saudade de escrever a alma no papel
de rabiscar os traços dos olhos
de olhar os rostos
Saudade da pouca falta de tempo
De limpar a casa
De sentir o vento
De não ter nada à perder
Saudade de gritar à toa
De dançar na lua
De não beber
Saudade de comer sem querer
De ficar perto das pessoas
De tocar
De amar
De correr
Saudade daquela esquina
Daqueles amigos
Daqueles sorrisos
Saudade da falsidade
Saudade de dizer sempre a verdade
Saudade de não ter saudade
Saudade de não sofrer

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Indivíduo-álcool

Desculpas embriagadas
encharcam meu colchão de álcool
Limparam suas almas escarradas no canto superior
do meu espelho de bolso
Não vejo sua face
O espelho não me reflete mais
Calmaria e tempestades
Dizeres absurdos
Sem paz
Uma briga
Uma explosão
Fogo no deserto
Sujeira em todos os cantos
Durmo de olhos abertos
Quero logo meu descanso eterno
Seque seu rosto e continue seguindo em frente
As margens se estreitam
Não há espaço para tanta gente
Alguém pede por socorro
Não ouço
Perdi os olhos nesta guerra.
O sol batendo forte na cabeça
A areia me engolindo
Não há nenhum porto seguro
Uma miragem me alcança
Os últimos suspiros
Apagam o sol
Destroem as nuvens
Perda de ar

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Burlesco

Tenho contido em mim
os maiores planos
e anseios do mundo,
mas algo vem me impedindo
de fazê-los reais,
algo vem me fazendo perder a crença
e o desejo de agir.
Enquanto grito,
o som me abafa
e penetra no fundo,
sem reação.
Abrir os olhos,
não abrir mão.
Olhe!
É a vida passando,
o que você vê?
Choque cerebral,
acorda!
Estou falando com você!
É tudo um jogo,
desde o princípio,
querem nos vender,
os sábios,
para que?
A vida me arrasta,
vou...
sigo,
para qualquer lugar
onde não seja necessário saber
contar.

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Relação

Retire de mim essa loucura que devagar se apossa de tudo
Invada-me com teus olhos profundos
Quero buscar esse entendimento que só você tem
Bata em minha porta novamente,
irei atendê-lo
Não chorarei mais pelos cantos,
irei encará-lo de frente!
Talvez se assuste e vá embora,
peço apenas que não permaneça olhando.
Teus olhos me incomodam
você me desnuda
deixando livre a minha carne unilateral.
Não fique aí parado,
se bateu, entre logo.
O frio adentrou o meu lar e resolveu habitar dentro de mim.
Não quero fazê-lo infeliz,
por isso acho melhor falar o que não te agrada,
talvez eu ainda possa mudar.
E se tudo der certo,
em breve, você será livre.

Quereres

É triste!
Quero correr e suspirar,
Quero abraçar o mundo com meus braços pequenos,
apoiar-me toda em meus dedos.
Debruçada sobre a grandiosidade de minha velha alma.
É tarde...
Estamos naufragando,
E Quero você.
Descobri tudo, assim que eu fiz tudo errado,
Assim que veio a certeza de que não quereria mais,
Queria não querer, mas o quero.
Quero todo,
Por completo,
Quero Junto
Pelo resto do tempo,
Pela eternidade desse instante,
Pelo pulsar desse momento.

sexta-feira, 31 de julho de 2009

Ostentação

Cabeça baixa
Acende-se um coração
Um gemido, uma palavra doce
Uma nova alma.
Agregar-se todo em sinceridade
Consumir a calma em grande volúpia
Sorrir para o infinito
Abrir os braços para o corpo
Passos inconscientes
Dedos longos
adentrando as línguas
para seu deleite.
Respire fundo e desfrute o silêncio.
Apagarei os vestígios neste quarto
para me assegurar que ninguém
ouvirá teus chamados,
Para engolir tua vida comigo
e guardar tua sede em minha lembrança.

terça-feira, 28 de julho de 2009

Sem Janelas

Escrevo no vento as linhas que ainda emanam dos teus olhos; Recebi sua carta depois de muito tempo. Ainda me lembro das últimas palavras, do último sussurro: "Sempre que passar nesse lugar me lembrarei desse beijo."
Eu, que nunca mais passara lá, continuo lembrando com exatidão daqueles últimos momentos em que te amava. Depois daqueles instantes restou em mim o sofrimento e a certeza de que não esqueceria.
A fé que tinha em você e em tuas palavras era grande, mas esta foi se desfazendo aos poucos, através de tuas atitudes inseguras e inesperadas.
Não sei por que resolvi me lembrar, mas você às vezes volta para tentar consertar o passado, mesmo sabendo que às vezes ele não teria conserto. A janela dos fundos ouviu meu coração pulsar quando gritou meu nome. Você que nunca sentou no sofá da minha sala e que nem pôde ver a bagunça do meu quarto. Você que nunca provou viver ao meu lado. Você que morreu antes mesmo daquele último segundo, antes mesmo de ter voltado seu olhar em minha direção.
Entrei naquele ônibus que eu nem sabia para onde iria me levar, paguei a passagem segurando o choro, sentei à janela para esquecer, e tudo o que fiz foi lembrar de tudo. Desci alguns pontos depois e entrei em outro ônibus que ia em sentido contrário, cheguei ao ponto de partida com a cabeça no seu mundo. Voltei para casa pensando na desculpa para chegar mais cedo. Falei o essencial, escondi como sempre a minha angústia. Foram meses de incompreensão, até que algo mudou.
Tudo se deu quando abri as janelas para olhar o mundo lá fora, vi assim que era fácil se manter nesse jogo, eu mesma nunca me cansaria se fosse eu no lugar dele, vi que tudo era fácil quando não se tinha coração, foi por isso mesmo que acabei perdendo o meu.

segunda-feira, 6 de julho de 2009

Renasce

Claridade de novo;
Extremo brilho em tua face;
Sorrimos para o sol;
Fortemente ilumina;
Como de costume vejo tudo pelas frestas;
Não participo do espetáculo;
Sou mero espectador;
Sou apenas parte insignificante do teu retrato.

domingo, 21 de junho de 2009

Sépala

Hoje nada se estabelece fixo em meu caminho,
as passadas rápidas e largas desbravaram tua grandeza.
Busque as coisas que estão inalcançáveis.
A graça está em se fazer rir.
Eu me detenho em ti,
em limites sinceros,
em magnitude de farsas.
Clamo o pedido da vida.
Visão pitoresca de realidade,
cabeça baixa,
boca surda.
Quero os meus pés de volta para mim,
para não correr mais com as mãos,
para virar desenho animado.
Para não ter sabão debaixo das unhas,
Degenero, abro os braços,
sonho com tudo de novo,
e as pernas se cansam de não serem sustentadas.

sábado, 20 de junho de 2009

Anátema

Que ingrata! A vida corre
Em um mesmo ritmo pulsado,
desencadeando sorrisos,
alargando as faces,
encorajando o medo,
desabotoando o coração,
permitindo-se...
Permita-se sorrir para um novo horizonte,
vestindo sua pele de festa,
suas orelhas de brilhantes...
Enfeite seus cabelos e tire para fora seu lixo reciclável...

domingo, 7 de junho de 2009

Pecado

Situações imprevisíveis se apoderaram de meu espírito,
caótico.
Não existem mais pensamentos de sã consciência.
As memórias se apagaram e voaram para longe.
Ponto. Naquele momento crucial.
Desligaram os aparelhos.
De repente, nessa solidão que inundou meus dias,
não encontro mais,
Não vejo mais nada.
Apenas o último momento.
Ressurgir o medo pelo fim.
A inquietação desigual.
Vejo as portas se fecharem depois de três dias.
Coloco-me entre os degraus daquela catedral,
aguardo pela ausência presente.
Acredito mais e menos.
Não resta mais consolo.
Choros e ranger de dentes.
Gritos e penúria.
Para mim, para minha alma,
pela minha carne.

domingo, 31 de maio de 2009

Sobre Olhos

Você vê com olhos insensíveis
como tantos outros olhos,
olhares medonhos,
aprisionados,
afastados daquilo que mais querem ver.
Olhos invisíveis, que se escondem atrás de outros olhos,
olhos que se omitem, que não refletem e que
não emitem!
Olhos que não choram, olhos que não brilham,
que não sentem águas, que não vêem estradas,
que não dão perdão.
Olhos que não erram, que não acertam,
que não gritam para o coração.
Olhos fechados, mentirosos,
olhos verdadeiros, olhos cerrados.
Olhos certos, olhares errados.

sexta-feira, 29 de maio de 2009

Quando Tudo Erra

Não posso mais inventar desculpas para me negar,
joguei tudo para o alto,
compartilhei meus pedaços com o coração,
entreguei os pontos.
Estou vivendo na bandeja.
Estou vivendo por viver.
Me belisque,
Falta a tarde para ver!
Caindo da esfera, tropeçando nas pedras...
Eu sei...
Não há pressa...

segunda-feira, 25 de maio de 2009

Inanidade

Entre nuvens,
as minhas quatro paredes,
meu quarto claro...
Gritando ao vento.
Um grito
para que finjam não ouvir,
Um grito
para me libertar de mim.
Fazendo-me cansar de ser,
de fazer tudo assim,
de não acreditar em nada,
e levar tudo de qualquer maneira,
esquentando muito, para logo esfriar.
Para não cansar,
para dormir tranquilo,
Para me esvaziar.

sexta-feira, 22 de maio de 2009

Ressaca Moral

Calando a boca para não falar besteira, abrindo portas, fechando cortinas, deitando na cama.
Não durmo, não dormem, as vozes zumbem, sacodem a cabeça, ruídos altos, palavras em falso.
Acordo sem ter dormido. Levanto deixando a consciência debaixo do travesseiro. Do lado de dentro, pelos lados opostos. São muitos, são todos que deveriam estar ali, sem nomes, sem lembranças. Nenhum deles lembraria.
Abre-se a boca num estalo contido, regresso por medo, depois que se inicia, chega-se até o final, não há volta por essa mão...
A passagem sempre esteve fechada, para a incapacidade de conter seus pensamentos... Sol nos olhos. Eu tinha fechado. A certeza da dúvida é breve e eficaz para a confusão dos sentidos. Mergulhei em pensamentos soltos, me abstraindo mais uma vez, chegando próximo à perda da consciência. Foi ali, onde tudo havia acontecido. Você havia chegado de repente, se aproveitando de um estado deplorável, como se não quisesse nada, e como se eu não deixasse...
De confuso, restou a vida, condenando-se por mim, e junto comigo, por essa melindragem. Desfigurei à mim mesma e no dia seguinte, me enfiei debaixo das cobertas como se não fizesse frio... Esperei atenta pelo mínimo toque, pelo suposto sussurro que não veio. Você estava tão gélido que me assustava. Tive medo. Você se manteve dormindo, e quando pensei que iria acordar para um sorriso, você apenas roncou alto...
Queria mais lembranças, queria saber mais sobre você... Um nome faria bem para todos os efeitos, nem me lembrava se te conhecia. Meus sonhos e pesadelos se confundiam com a realidade, e quando acordei não sabia mais o que teria feito em meu estado de ausência.
Lembro-me agora, de quando você me fazia raiva, daqueles momentos nos quais todas as palavras serviam de punhais. Tudo isso seria para ver você notar mais, para ver se você repara que eu ainda espero pela sua inquietude, pelas suas respostas indecifravéis... Para que você saiba que eu ainda espero um jogo de idéias que eu não compreenda... E espero muito, de tudo que para você não valha nada. Eu revirei a minha vida, revirei minhas palavras pra fazer alguém me ouvir, pra gritar no seu ouvido, sussurrando. Um jogo como esse nunca é em vão, como você pensa. Uma palavra, ainda que inventada, como todas foram, expressam um contíguo limite de realidade jogada pelos cantos. Os meus limites me acordaram para a sua fraqueza e você como sempre continuou por aí dormindo.

quarta-feira, 20 de maio de 2009

Insensibilidade

Pelos dias claros
desse insensível acordar,
choram...
as águas, as pedras, os pedaços...
Choram as peles,
Inconsoláveis...
Despertam para o novo,
a dor da dúvida,
fortalece...
Chore,
choraremos...
Como sempre,
para nunca parar...

sexta-feira, 8 de maio de 2009

Conjetura

Não quero mais ser uma figura incomum aos olhos de todos,
quero ser incomum além do que os olhos podem ver!
Ah...! Como quero fazer de mim algo que está além...
Pelo simples fato de abrir os pulsos e o coração para que se deixe pulsar!

Quero um corte profundo, para ver o sangue escorrer,
quero um soco no rosto, quero deixar doer!
Que dor é esta? Que lateja no peito e não encontra razão na cabeça?
Quero a loucura certa, na medida, à prestação...
Quero viver aos poucos, para não consumir tudo!
Para chegar no fim com mais vida para viver!
E mesmo que seja na morte, ainda assim, quero força!
Quero mente, quero consciência,
nem que seja para sofrer mais...
Nem que seja para chegar mais fundo,
para ver através, para devorar o mundo!

domingo, 26 de abril de 2009

Evidência

Uma parte de você, hoje me fez lembrar
da translucidez da minha pele sobre a sua,
de seus movimentos ágeis contra os meus, tão lentos...
Nunca fui capaz de te alcançar, de tão longe, me punha
apenas à lhe observar...
Quis te ver sorrindo sempre, quis ter sua alegria para mim,
mas os meus olhos estavam pesados de tantas linhas negras.
Meu sorriso seco, não conseguiu enganar o seu, sempre tão feliz!
Senti-me afogada, dentro do meu próprio vazio, pela minha própria incapacidade de amar,
por conhecer tão bem o amor, e não conseguir mais enganá-lo como fizera à tempos atrás...
Senti frio e seu corpo não estava aqui, contentei-me com um cobertor fino,
que enganava um pouco os meus sentidos e a minha vontade...
Meus olhos se abriram esperando encontrar os seus, mas foi apenas por um momento,
logo a realidade caiu sobre o meu colchão.
Acordei várias vezes, sentindo sede, tentando me recuperar daquela embriaguez que me
consumia e me distanciava ainda mais da verdade.
Tentei te encontrar em muitos outros sorrisos, mas nenhum era tão exagerado quanto aquele último que me destes antes de bater aquela porta.
Você fugiu de mim, assim como eu me acostumara a fugir de você...
Eu me desvencilhei tanto do amor que assim que ele teve a oportunidade, se afastou da minha vaidade e deixou apenas a parte despretensiosa e ingênua de minha alma. Retirou as amarras e desatou os nós que me prendiam.
Fui exposta por ele, logo após que foi exposto à mim o lídimo amor.

sexta-feira, 24 de abril de 2009

Espúrio

Noite em claro, perspicácia,
Alvorecendo, depois de sete dias...
Não via mais nada, apenas faces,
olhares desfigurados, desejosos de explicação, de maiores controvérsias, de mais loucuras sem razão. O que diziam não importava, mantinha minha atenção fixada naquela mulher que limpava o quarto, vagarosamente, com certa dificuldade, via-se com facilidade que sua mobilidade estava comprometida, era desumano permitir que ela fizesse todo aquele trabalho enquanto todos estavam ali, ao meu redor, sussurrando uns com os outros. Preocupados com dúvidas que não lhes cabiam e que não iriam ser esclarecidas tão cedo.
Meu olhar vagava ao longe, penetrava e se difundia sobre aquela mulher, ela me intrigava. Aos poucos ela veio se aproximando, no entanto ninguém se movia para que ela passasse, ela se arriscava em empurrar uns e outros, e depois de algum tempo observando, ela terminou seu percurso, chegou perto de mim, estendeu as mãos frias sobre o meu rosto e disse claramente: "Bom dia meu filho, escute bem para que compreenda o que preciso lhe dizer, não espere que seus problemas cessem apenas fugindo deles, não mais, foi você quem os buscou e eles só poderão se afastar de você quando você permitir que eles partam, quando você aceitar que depende de você tornar isso possível, faça isso meu jovem, faça isso para que você viva mais e viva bem, para que você viva o hoje e busque um novo dia de sol, um fio de esperança, uma gota de chuva no rosto, para que se sinta vivo, para que realmente sinta!" A esperança se apossou de mim, ouvi todos falando ao mesmo tempo, me desliguei. Apaguei por algumas horas e quando retornei à sã consciência, havia apenas uma pessoa ali, procurei por aquela mulher, mas agora havia apenas um homem ao meu lado, era meu avô, ele me disse que havia sofrido um acidente e havia perdido a consciência por alguns dias e que agora precisava descansar. Não quis, permaneci na mesma posição, não entendia muito bem, o certo é que eu não queria estar mais aqui, no entanto continuo entre vocês, o que ouvi hoje me fez entender muita coisa, pensei o suficiente para chegar às minhas conclusões. Assim que meu avô deixou o quarto, voltei à adormecer e no dia seguinte, acordei diferente, ainda não sabia de nada que estava por vir, não sentia partes do meu corpo, isso me preocupava e os motivos que me levaram até aqui ainda não estavam claros. Sempre agi de acordo com meus impulsos e isso sempre me causou muitos danos, não sei até que ponto estraguei tudo, mas quero acreditar que posso mudar o mundo, quero acreditar que ainda sou o mesmo e que estarei de peito aberto para encarar a vida, para contar estrelas, para sentir a chuva fria molhando minha pele, para sentir o cheiro da brisa do mar, para sorrir, para viver, para sonhar...

segunda-feira, 20 de abril de 2009

Cárcere

Condenou-se às margens,
Vestiu sua capa,
Vedou-se os olhos...
Fez de tudo para mudar o mundo com o menor esforço...
Com uma palavra, ao fechar das portas, ouviu-se apenas choros...
Pelo menor gesto,
mudou tudo,
destruiu o mundo,
e não achou abrigo para si mesmo,
todos morreram...
Não restou dúvida,
as almas se perderam,
trancafiaram-se por medo,
engoliram as chaves...
Não aguentaram o peso da cruz...
Ensanguentados, se jogaram ao vento...
Apagaram-se as luzes,
O frio tomou conta de cada pedaço,
Desvaneceram, e não há volta...
É o fundo do poço

sexta-feira, 17 de abril de 2009

SOBEJOS

Busca que não se cansa,
nesse emaranhado de dentes,
nessas convulsões de expressão,
de tantos que ainda não descobriram, de fato,
o sentido da verdadeira sensibilidade.
A inquietação da alma,
a difusão da vida...
A propagação intensa dos atos!
Não apenas coincidência,
e nem sempre incidente...
Somos parte dessa peça,
Estamos inseridos neste espetáculo.
É inegável, a vida.
É inegável, o tempo...
Ainda que não possuamos a fonte,
ainda que não restem nem mesmo as palavras
para concluir este ato,
e que restem tampouco os ossos,
que a partir de então não serão mais nossos.
E com um pouco de sorte, talvez restem algumas idéias, que com o passar do
tempo também não terão mais tempo para restar.

quinta-feira, 9 de abril de 2009

Dispêndio

Não resta mais vista,
Nem planos.
Agora é hora,
Não sobrou pra janta.
Devorou os pratos limpos,
Desvirtuou as boas lembranças.
A claridade afastou o cálice,
As bocas se limitaram.
Expandir,
Renegociar,
Pedir pressa,
Deixar tudo para trás,
Não se esconder atrás de portas.
Encarar as faces,
Repousar os medos,
Sem desperdício.

Descrição

Arranjo da expressividade do subconsciente sem controle exercido pela razão. Esta que efunde para o fundo, para as margens, do lado oposto, para dentro, que flui do pensamento, um estado transitório de mudanças.

sexta-feira, 3 de abril de 2009

Condolência

Nessa constância diária, encontrei-me
presa em uma encruzilhada,
duas forças me atingiam de frente,
dois caminhos me levavam à nada.
Não adianta fazer a escolha certa,
Às vezes, chegamos num ponto, no qual
não existem mais escolhas.
O risco é a possibilidade mais concreta.
Quantas vezes nos paramos para buscar respostas,
e nos convencemos que é melhor esquecermos das perguntas?
Já foram tantas, que nem me lembro mais.
Agora, isso não importa. As respostas mudaram de forma,
inundaram um novo contexto, e o meu já é passado.
O depois nunca chegava, e eu cheguei além do depois.
De tanto cochilar, acabei dormindo no ponto.
Acabei me esquecendo que era necessário me preocupar.
Até quando deixaremos de pensar?
Até quando isso for conveniente, ou até chegar o dia
que não haverá mais condição de adiar.
Será necessário se abrir, para que se encontre verdadeiramente,
Para que assim, seja possível enganar à todos,
e não enganar à mais ninguém.

segunda-feira, 30 de março de 2009

ERA VERDADE

Absorvi as luzes que as vozes emitiam,
Engoli as frases.
E remoendo os medos,
calei os meus propósitos.
A atitude real é claramente tortuosa.
Não me separo dessa loucura que existia em mim.
Logo que os pensamentos se tornaram lâminas,
uma parte essencial se tornou tão mentirosa que
passei a acreditar em cada figura expressiva, em cada
momento de dor impermeável.
Para retirar esse medo,
para suprir uma necessidade, para tentar restaurar essa pintura antiga que eu mesma havia pintado em mim, e que depois de tão pouco tempo se desfez, talvez eu tenha pagado muito pouco.
Talvez tenha comprado os piores painéis.
E por essas curtas pernas não alcancei mais nada.
Tropecei em cada galho, em toda pedra.

E depois de todas as descobertas,
vieram outras.

domingo, 29 de março de 2009

Tantos Olhos

Acordei diferente,
diferente como sempre,
um vendaval de pensamentos chegou aos meus ouvidos,
inundando minhas ações,
não sei com que pé levantei,
mas hoje fez toda a diferença não saber.
Eu me calei perante a multidão que se prostrava ao meu redor,
irradiei uma alegria que até então não era minha,
levantei-me e me pus à postos para correr dali,
e permaneci aonde sempre estive, imóvel.
Agradeci aos outros e à mim mesma por não querer continuar,
no entanto quando cheguei mais perto, vi que era uma necessidade.
Hoje, quando acordo, vejo o mundo com outros olhos,
os olhos que tenho hoje.
Corro para enxergar tudo,
para absorver a vida ao máximo.
Ela está passando e me deixando para trás, me deixando com olhares
vagos, de paisagens incompletas...
A memória não dura muito, logo tudo se apagará, e será apenas mais um ano,
mais um dia entre tantos...
Entre tantas vidas, apenas mais um engano,
apenas mais uma vida.

quinta-feira, 26 de março de 2009

Quando Falta Tempo

Um dia de nuvens espessas rodeando a vida vazia,
um sentimento descompassado,
uma mudança de planos.
Ouço os passos próximos da porta de entrada,
papéis se amassando, as cadeiras se arrastam,
silêncio completo.
Estamos sendo observados,
A origem de tudo isso foi a falsa imagem apresentada.
A imagem de todos os dias, a face nua.
A ascensão fez-me ir ao chão, da noite ao dia,
quebramos a cara, um sacrifício verdadeiro,
rastejamos, servimos aos outros, à troco de que?
E precisa ter troco?
As moedas ficam comigo, deixe a gorjeta para mais tarde,
há mais para pagar por agora, há muito pouco para levar
na bagagem.
A vida é um princípio capsular, ainda não saímos da casca,
ainda não quebramos o gelo.
Há tanto para se viver lá fora, há muito que não vejo a lua no céu,
ele chora à vários dias, não dá tempo, corro tanto que só vejo
o pouco que fica pra trás, os detalhes já fugiram do ângulo,
sumiram das vistas.

terça-feira, 24 de março de 2009

Quimera

Alma em carne viva,
Debruçada sobre a cama daquele quarto de visitas.
após longa reflexão ainda não tinha sido capaz de absorver
todas as palavras daquela conversa, palavras cheias
de duplos sentidos, alteração de vozes.
Ela percorreu todo o quarto, vagou por ali por algum tempo,
tentando dissecar cada gesto memorável. Não há mais
tanta explicação para se dar por aquelas e outras atitudes.
Contaminou-se com a furtividade, decidiu ir atrás dele,
correu até sua casa, gritando seu nome, chorou por várias horas,
enquanto concluía que a culpa era dele.
A chuva caia forte e se misturava com suas lágrimas,
chorou durante toda a noite, chorou dentro de si mesma.
No dia seguinte acordou com os olhos inchados e a
cabeça explodindo, sabia que não poderia ficar assim.
Mas resolveu abrir mão de tudo, o cansaço se apossou
de sua pele, seus olhos em conluio com seu corpo,
se fecharam, e em um momento sua mente se desligou,
dormiu, sonhou com um lugar diferente, um novo rosto,
uma nova vida, mais brisa, mais calor para aquecer seu
coração de novo, para se livrar dessa madrugada fri
a.

sexta-feira, 20 de março de 2009

Embarcação

Levantei-me pisando com cuidado naquele chão frio,
ainda estava escuro, não enxergava nada, fui tateando a parede,
até encontrar um apagador, click, escuridão,
Encontrei a porta, girei a maçaneta devagar,
abri os olhos para o mundo lá fora.
Encontrei um corredor sombrio e mais uma porta aberta,
entrei sem bater, me aconcheguei naqueles lençóis macios,
cansaço, fechei os olhos e a luz se fez de dentro para fora e afogou
os passageiros que trafegavam pelas bordas, acordei com um grito,
talvez fosse o meu próprio, mas isso não importava, já era dia,
minha cama estava virada e não havia mais ninguém ali, apenas minha sombra,
o grito ecoava pelos cantos, os apagadores se reacendiam...
Os passageiros eram os meus lençóis, e os meus sonhos acabaram engolindo-os.

quinta-feira, 19 de março de 2009

Falso delírio

Uma cortina aberta
Um sol pela fresta
Sonhos
Poesia
Gostos amargos
Uma dança
Um par desavisado
Passos aturdidos
Olhares furtivos
Cobiça
Perdição
Desamor

domingo, 15 de março de 2009

Nuança

Por que o meu amor é o que me inspira à perseguir o meu devaneio,
à revirar minha loucura,
à me recriar...
Sou dele e ele é meu,
por enquanto é o que me basta,
é minha certeza incerta,
é quando fecho os olhos e mesmo que olhando
pro lado é só a sua voz que eu escuto,
já que dizes que escrevo o que vivo, hoje,
resolvi te escrever, para ver se você acredita.
Para ver se você vai me ler...
E o que vai ler, é possível que ainda não compreendas,
mesmo sabendo que é de fácil entendimento...
O que eu sei, é o que você sabe, e mesmo que eu saiba
de tudo, ainda assim, não saberei nada sem olhar no
fundo dos teus olhos castanhos,
esses olhos que rasgaram a casca que me revestia,
tentando profundamente burlar as minhas peles,
ainda falta para que todas caiam por terra,
mas posso dizer que és aquele que chegou
mais perto de ver minha carne nua!

quinta-feira, 12 de março de 2009

Sobre o Jonas

À ele devo muito,
Ou devo tanto quanto não devo,
Por todas as palavras de insanidade,
Pelos momentos de expressiva compreensão.
Já se foram as terças-feiras,
tão nostálgicas quanto a vida em si,
quanto todos os bons momentos.
Pensamentos isolados, inteiros,
desorganizados, frases aleatórias,
que fizeram e fazem o sentido exato!
Idéias congruentes de uma mesma e oposta
perspectiva, causadora de divagações que não teriam fim.
O que falamos, nos fez estabelecer laços que nem mesmo
o tempo, a dúvida ou a poeira poderão apagar!
Há neles algo de concreto, uma construção infinita de valores!
Ele que é um amante eterno!
Um romântico encapsulado, que apenas vive esperando a hora certa!
E como humano, sofre.
Como poeta enigmático, que esconde em seus versos
a arte de amar!
A arte de se prender, de se deixar guiar!
Um dia a vida irá fazer com que seu curso tome novos rumos,
as fases, famosas, são estados passageiros,
de uma mente alucinada!
Companheiro de lutas e defesas exasperadas!
Amigo sincero, de uma verdade absoluta,
não nego,
Jamais poderei negar a complexidade
de sua personalidade, de seu jeito, de seus devaneios,
que assim como os meus, são tão indescritíveis quanto
a realidade de um dia qualquer!
Que nunca lhe faltem um copo e uma garrafa de álcool,
para que se comemorem os risos de uma estranha felicidade,
ou para que se afoguem as lágrimas de uma falsa valsa dançada
sem par!
Enquanto viver serei fiel à essa amizade,
brindarei contigo ambos os momentos,
para que ria mais e para que pouco se entristeça!
Que nossas loucuras não passem, mesmo que passe a idade!
Deixe a brisa passar e sentir tua pele, deixe o calor queimar enquanto derrete, deixe que o bloco se despedace,
deixe a vida correr sem ter presa, deixe a palavra virar grito, deixe o grito virar alento! A vida está esperando para ser vivida, há amores para toda a vida, há amores que vêem e vão, como um sopro quente, como uma madrugada fria!
Sorria e deixe mostrar seus dentes!
Há muito para ver lá fora!
Falta pouco para o raiar do dia!
A nuvem que o acercava, um dia se desfará!
É só não ter pressa!
Você sabe!
Comigo é para toda a vida!
Amigo,
És meu ombro, meu amparo!
Te amo pela imortalidade da sombra do destino,
por você faço até retirar as pedras do caminho!
Esteja certo!
O dia é longo, aguarde!
Quando acordar será tudo de novo,
será um novo sorriso!
Brindemos à tristeza, à amizade e
à poesia!

Sabatinando

Quanto inspiras minha lentidão.
Minha alma espera pelo menor acalento.
Para enfim adormecer em teus braços.
Deitar em teu colo,
Ouvir tuas palavras,
Cantar o teu gosto.
Que nunca me falte a necessidade
De uma noite clara,
e de um mundo vazio!
A bondade é o pior desespero,
é a loucura mais sombria,
a cobiça irreal!
Abro os olhos quando os teus foram desalumiados,
onde tudo se fez perdido!
Não é maior meu desapontamento do que foram os teus,
comigo tudo é um risco,
uma generalização perigosa,
uma montanha russa,
um veículo sem freios.