segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Foto-Melancolia

Que retrato és tu?
Não retrata o teu original.
Não espelha a realidade,
não capta a essência,
não se assemelha,
como esse poema,
que fiz apenas pensando em esquecer.
Criei a cena,
o espetáculo,
carreguei nas costas, o palco,
para que final?
Joguei toda a tralha no banco de trás do carro,
fechei no porta-luvas todos os meus armários,
trancafiei lá dentro também tudo o que existia de bom
dentro de mim.
Abri na lataria um buraco pra deixar tudo escapar devagarinho,
sem deixar vestígios,
fechei as portas e joguei toda a vida fora,
como um pedaço de papel
que voou com o vento que entrou pela minha janela.

domingo, 27 de setembro de 2009

Quando Falta um Coração

Acordo com todos os fantasmas ao redor,
O dia parece frio lá fora,
Só falta dar mais um passo,
Falta apenas abrir os olhos,
Falta um pouco de ar pra respirar.
Parece que tudo está fora da realidade,
sinto-me ofegante,
o corpo cansado,
A cabeça doente,
Insônia profunda,
Os olhos inchados,
As lágrimas nas pontas dos dedos.
Matei um pedaço meu para continuar vivendo,
Adormeci no meu velório,
As bocas inflamadas de palavras,
Os olhares distorcidos.
Olham para mim é não enxergam ninguém,
porque parte de mim grita,
enquanto a outra parte apenas chora.
A vida segue seu curso como o de um rio,
para as profundezas da morte,
para a solidão.
O tempo continua correndo no relógio
como se nada tivesse acontecido.
O sol continua sorrindo.
Queria um dia menos feliz para justificar o meu
não sorrir,
Queria chover para ser só chuva correndo pro mar.

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Flor da Saudade

No mesmo canto,
observando tudo,
na sacada,
do alto,
de cima do muro.
Surreal,
saber que não estou sozinho dentro de mim.
Do lado de fora ouço os gritos abafados,
ouço o som dos carros,
as pessoas conversando.
Vejo a vida passar.
O céu se encerra sobre minha cabeça,
o tempo se fecha,
chove,
fecho a porta,
um número,
aquele mesmo de tanto tempo,
a mesma casa, na mesma rua,
o mesmo sentimento.
A vida se move do lado de fora,
enquanto eu me fecho aqui dentro.
As ruas mudam de lugar,
as palavras doces,
o coração fechado,
a alma que sangra,
um cigarro.
Vejo de longe,
através da fumaça,
seus olhos acesos,
Estou na sacada,
te esperando.
Mas você não vem,
por que você não passa?
Esqueci que você não sabe meu endereço,
mas eu espero,
estou na sacada olhando para você,
mas você nem nota,
Você não sabe que sou eu,
Paciência,
Ainda conserto tudo,
a curiosidade se expande,
Será que ela não sabe?
A rua,
a sacada,
a Flor da Saudade.

sábado, 19 de setembro de 2009

Seria Óbvio

Saudade de escrever a alma no papel
de rabiscar os traços dos olhos
de olhar os rostos
Saudade da pouca falta de tempo
De limpar a casa
De sentir o vento
De não ter nada à perder
Saudade de gritar à toa
De dançar na lua
De não beber
Saudade de comer sem querer
De ficar perto das pessoas
De tocar
De amar
De correr
Saudade daquela esquina
Daqueles amigos
Daqueles sorrisos
Saudade da falsidade
Saudade de dizer sempre a verdade
Saudade de não ter saudade
Saudade de não sofrer

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Indivíduo-álcool

Desculpas embriagadas
encharcam meu colchão de álcool
Limparam suas almas escarradas no canto superior
do meu espelho de bolso
Não vejo sua face
O espelho não me reflete mais
Calmaria e tempestades
Dizeres absurdos
Sem paz
Uma briga
Uma explosão
Fogo no deserto
Sujeira em todos os cantos
Durmo de olhos abertos
Quero logo meu descanso eterno
Seque seu rosto e continue seguindo em frente
As margens se estreitam
Não há espaço para tanta gente
Alguém pede por socorro
Não ouço
Perdi os olhos nesta guerra.
O sol batendo forte na cabeça
A areia me engolindo
Não há nenhum porto seguro
Uma miragem me alcança
Os últimos suspiros
Apagam o sol
Destroem as nuvens
Perda de ar