sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Cândido

Clareza de sentidos
Universalidade
Abrangência
Você
Contra-senso
Na contra-mão
Lampejo
Lamparina
Lampião

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Preto Escarlate

Ela andava numa marcha só, cabisbaixa, serena. Olhava pelos cantos às vezes, para ter certeza que ninguém a seguia, contemplava a paisagem: as folhas secas, as árvores espaçadas, o céu escuro.
A menina dos negros olhos e dos cabelos vermelhos.
Via nela toda a segurança e a incerteza que jamais enxergara em nenhuma outra pessoa.
Ela chamou minha atenção desde o primeiro instante, quando sorriu e focou seus olhos brilhantes e reluzentes nos meus.
Busquei no fundo deles todas as respostas as quais não tenho até hoje.
Ela possuía um ar penetrante, um íma que me conduzia em sua direção.
Havia alguma coisa que eu não podia entender, algo que ninguém imaginara.
Eu precisava descobrir o que era.Ela me magnetizou por alguns instantes e continuou sua caminhada, para ela eu era apenas mais um qualquer.
Mais um que nunca a compreenderia.
Resolvi segui-la. Precisava saber mais sobre ela.
Minha curiosidade poderia ter acabado comigo, mas eu não me importava.
Ela percebeu que eu continuava andando para alcança-la e resolveu parar.
Esperou que eu me aproximasse e mais uma vez olhou fixamente dentro dos meus olhos, eu me senti nu naquele momento, como se ela pudesse ver dentro da minha alma, como se ela percebesse cada medo que eu escondia.
Ela não disse nada. E quanto mais ela me olhava, mais eu me sentia seduzido. Sentia-a cada vez mais perto.
Queria tocá-la e nesse momento ela virou as costas e continuou andando. Continuei seguindo-a e quando chegamos próximos à uma ponte, ela disse-me que parasse por aqui. Sua voz era penetrante, assim como seus olhos. Eu ouvia o que dizia mas não conseguia assimilar nada. Percebendo isso, ela começou a andar rumo ao meu encontro, meu coração disparou, tocou minha pele, eu fechei os olhos e ela então sussurrou algo incompreensível no meu ouvido. Eu não podia deixar que fosse embora. Mas quando pensei em segurá-la ela já havia desaparecido. Não sabia seu nome, nem seu endereço, gritei incontrolavelmente por alguns minutos e em seguida fui para casa com sombras de pensamentos vazios e sua imagem refletida em minha lembrança.

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

A Última Cerveja

Hoje o dia amanheceu mais cinza que antigamente,
a vida iniciou um novo curso.
Ela se olhou no espelho e viu sua face rubra, seu olhar vago e seu falso sorriso.
Tentou abrir os braços em frente à ele, relembrou todos os bons momentos passados.
Não sabia como reconstruir tudo, sabia apenas da necessidade de continuar a vida. Não esperaria por sua mudança, ela teria que fazer tudo à seu modo.
Seu sorriso se enegreceu quando lembrou da falta que ele faria e de sua presença ausente que se encontrava em sua casa.
Veio a tarde quente, a brisa em sua face, seu pensamento voando longe.
Um último olhar, uma última viagem.
Ela encontrava-o naquela estrada, vagando com a vida no tempo, ao seu lado o silêncio e a incerteza de um futuro. No copo, o último gole de um momento que não era mais seu.
Agora restou à ela as lembranças de tudo o que foram, a certeza de que tudo passa, de que a vida segue seu curso e de que um dia eles dobrarão a mesma esquina!

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Alacridade

Descobri em mim um gosto meio sem gosto,
uma vontade de fazer o que não deveria,
uma facilidade em me expressar nos retratos,
em colorir fotografias.
Descobri que gosto de folhas em branco,
Gosto de liberdade,
de sentir o vento.
Gosto de todas as formas,
de todas as artes,
de todos os gostos,
de todas as boas histórias.
Gosto ainda de muitas outras coisas,
algumas inefáveis, outras perturbadoras.
Algumas as quais guardo só para mim,
para que às vezes eu saiba de que gosto mesmo.

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Divagando

As majestosas tardes de domingo se transformaram em prés segundas-feiras,
nas quais a sensação de desânimo e o cansaço mental tomam conta de tudo.
Não é mais um dia qualquer, o qual seria vivido como qualquer outro,
mas uma preparação para o seguinte, que talvez seja melhor que sua agonizante espera.
Desse encontro, uma página virada.
Rabisco essas linhas com o intuito de divagar sobre alguma coisa que preencha esses espaços vazios e enquanto isso fico pensando no enclausuramento no qual estamos inseridos,
Na falta de escolha, na vida esquecida, no tempo perdido,
Nas pessoas que deixam de aproveitar os segundos, que não se importam com o valor das pequenas coisas.
Fico pensando nas muitas coisas que deixei de fazer, oportunidades que jamais voltarão,
nas tardes de domingo perdidas, esperando o tempo correr, deixando o calor esquentar, esperando o cair da noite, olhando pro relógio e reclamando da pressa que tem a segunda-feira em chegar.
Esperei tantos dias seguintes que já perdi a conta, e enquanto esperava deixei muita vida correr por debaixo da ponte, como um rio que segue seu curso sem se transformar.
Não fique parado olhando para o vazio, você pode se encher, se completar, viver plenamente, respirar bem fundo, pensar.
Tolos são aqueles que como eu deixam um dia passar como uma folha em branco,
Que não rabiscam sua história nos muros, nas paredes dos quartos, nos corredores, nos terminais.
Antes de se calar por uma eternidade deixe sua marca na calçada,
deixe por aqui os sinais de sua passagem!

domingo, 3 de janeiro de 2010

Exiguidade

Vi você hoje na esquina dos meus sonhos,
reparei no seu corte de cabelo e na sua pele queimada de sol,
Pude ver também o modo como olhava para mim,
parecia que era a primeira vez que me via,
Seus olhos estavam cheios de expectativas,
Mas havia uma névoa que nos separava,
Alguma coisa te impedia de se aproximar.
Acordei de repente, com você na minha cabeça,
queria você aqui.
Eu estava no meu quarto, imaginando onde você poderia estar.
Queria te buscar das esquinas dos meus pensamentos para a esquina da minha rua.
Fazer de você letra para minha poesia.
Ou virar poesia para sua melodia.
Olhar você da varanda.
Deitar na rede e sonhar acordado.
Mas pena você não existir.
Pena que você é real apenas nos meus sonhos
e que deles você anda passando longe.
Volte mais vezes.
Aguardo a composição que ficará gravada em minha pele,
uma nova estampa para esse rosto.
Fale mais comigo, seu grito anda mudo,
preciso desse som para suprir minha falta de você.
Amanheceu novamente, como todos os dias.
E pude acordar com a mesma sensação de ausência,
com o mesmo sentimento de que não te verei hoje também.

Sobre a Vida

Aceite que nem sempre as coisas vão acontecer do modo como você espera.
Muitas vezes você vai ligar e ninguém irá atender.
Outras tantas você vai chorar e ninguém vai reparar nos seus olhos vermelhos.
A vida é essa.
Ela passa como um sopro quente no fim da tarde.
Como um dia sem almoço.
Como um filme sem final.
Acaba quando você esquece de viver ou quando você não pode mais escolher ou esquecer.
Quando você deixa tudo desorganizado, juntando roupa suja para lavar em um final de semana que talvez nunca chegue para você.
A vida passa direto, como um ônibus que não pára para você embarcar.
Depois que ela vai embora não importa o quanto você reclame, não volta.
A vida é única e você é o ator principal da sua.
Não deixe que a peça acabe sem antes representar bem o seu papel.

Truncando

Noite em claro
O pôr-do-sol
As madrugadas vazias
Silêncio profundo no corredor
Quartos embebidos de ausência
Um dia vago
Copos quebrados
Memórias coladas
E um breve sorriso
Apenas para rematar a minha
Não plenitude