domingo, 26 de abril de 2009

Evidência

Uma parte de você, hoje me fez lembrar
da translucidez da minha pele sobre a sua,
de seus movimentos ágeis contra os meus, tão lentos...
Nunca fui capaz de te alcançar, de tão longe, me punha
apenas à lhe observar...
Quis te ver sorrindo sempre, quis ter sua alegria para mim,
mas os meus olhos estavam pesados de tantas linhas negras.
Meu sorriso seco, não conseguiu enganar o seu, sempre tão feliz!
Senti-me afogada, dentro do meu próprio vazio, pela minha própria incapacidade de amar,
por conhecer tão bem o amor, e não conseguir mais enganá-lo como fizera à tempos atrás...
Senti frio e seu corpo não estava aqui, contentei-me com um cobertor fino,
que enganava um pouco os meus sentidos e a minha vontade...
Meus olhos se abriram esperando encontrar os seus, mas foi apenas por um momento,
logo a realidade caiu sobre o meu colchão.
Acordei várias vezes, sentindo sede, tentando me recuperar daquela embriaguez que me
consumia e me distanciava ainda mais da verdade.
Tentei te encontrar em muitos outros sorrisos, mas nenhum era tão exagerado quanto aquele último que me destes antes de bater aquela porta.
Você fugiu de mim, assim como eu me acostumara a fugir de você...
Eu me desvencilhei tanto do amor que assim que ele teve a oportunidade, se afastou da minha vaidade e deixou apenas a parte despretensiosa e ingênua de minha alma. Retirou as amarras e desatou os nós que me prendiam.
Fui exposta por ele, logo após que foi exposto à mim o lídimo amor.

sexta-feira, 24 de abril de 2009

Espúrio

Noite em claro, perspicácia,
Alvorecendo, depois de sete dias...
Não via mais nada, apenas faces,
olhares desfigurados, desejosos de explicação, de maiores controvérsias, de mais loucuras sem razão. O que diziam não importava, mantinha minha atenção fixada naquela mulher que limpava o quarto, vagarosamente, com certa dificuldade, via-se com facilidade que sua mobilidade estava comprometida, era desumano permitir que ela fizesse todo aquele trabalho enquanto todos estavam ali, ao meu redor, sussurrando uns com os outros. Preocupados com dúvidas que não lhes cabiam e que não iriam ser esclarecidas tão cedo.
Meu olhar vagava ao longe, penetrava e se difundia sobre aquela mulher, ela me intrigava. Aos poucos ela veio se aproximando, no entanto ninguém se movia para que ela passasse, ela se arriscava em empurrar uns e outros, e depois de algum tempo observando, ela terminou seu percurso, chegou perto de mim, estendeu as mãos frias sobre o meu rosto e disse claramente: "Bom dia meu filho, escute bem para que compreenda o que preciso lhe dizer, não espere que seus problemas cessem apenas fugindo deles, não mais, foi você quem os buscou e eles só poderão se afastar de você quando você permitir que eles partam, quando você aceitar que depende de você tornar isso possível, faça isso meu jovem, faça isso para que você viva mais e viva bem, para que você viva o hoje e busque um novo dia de sol, um fio de esperança, uma gota de chuva no rosto, para que se sinta vivo, para que realmente sinta!" A esperança se apossou de mim, ouvi todos falando ao mesmo tempo, me desliguei. Apaguei por algumas horas e quando retornei à sã consciência, havia apenas uma pessoa ali, procurei por aquela mulher, mas agora havia apenas um homem ao meu lado, era meu avô, ele me disse que havia sofrido um acidente e havia perdido a consciência por alguns dias e que agora precisava descansar. Não quis, permaneci na mesma posição, não entendia muito bem, o certo é que eu não queria estar mais aqui, no entanto continuo entre vocês, o que ouvi hoje me fez entender muita coisa, pensei o suficiente para chegar às minhas conclusões. Assim que meu avô deixou o quarto, voltei à adormecer e no dia seguinte, acordei diferente, ainda não sabia de nada que estava por vir, não sentia partes do meu corpo, isso me preocupava e os motivos que me levaram até aqui ainda não estavam claros. Sempre agi de acordo com meus impulsos e isso sempre me causou muitos danos, não sei até que ponto estraguei tudo, mas quero acreditar que posso mudar o mundo, quero acreditar que ainda sou o mesmo e que estarei de peito aberto para encarar a vida, para contar estrelas, para sentir a chuva fria molhando minha pele, para sentir o cheiro da brisa do mar, para sorrir, para viver, para sonhar...

segunda-feira, 20 de abril de 2009

Cárcere

Condenou-se às margens,
Vestiu sua capa,
Vedou-se os olhos...
Fez de tudo para mudar o mundo com o menor esforço...
Com uma palavra, ao fechar das portas, ouviu-se apenas choros...
Pelo menor gesto,
mudou tudo,
destruiu o mundo,
e não achou abrigo para si mesmo,
todos morreram...
Não restou dúvida,
as almas se perderam,
trancafiaram-se por medo,
engoliram as chaves...
Não aguentaram o peso da cruz...
Ensanguentados, se jogaram ao vento...
Apagaram-se as luzes,
O frio tomou conta de cada pedaço,
Desvaneceram, e não há volta...
É o fundo do poço

sexta-feira, 17 de abril de 2009

SOBEJOS

Busca que não se cansa,
nesse emaranhado de dentes,
nessas convulsões de expressão,
de tantos que ainda não descobriram, de fato,
o sentido da verdadeira sensibilidade.
A inquietação da alma,
a difusão da vida...
A propagação intensa dos atos!
Não apenas coincidência,
e nem sempre incidente...
Somos parte dessa peça,
Estamos inseridos neste espetáculo.
É inegável, a vida.
É inegável, o tempo...
Ainda que não possuamos a fonte,
ainda que não restem nem mesmo as palavras
para concluir este ato,
e que restem tampouco os ossos,
que a partir de então não serão mais nossos.
E com um pouco de sorte, talvez restem algumas idéias, que com o passar do
tempo também não terão mais tempo para restar.

quinta-feira, 9 de abril de 2009

Dispêndio

Não resta mais vista,
Nem planos.
Agora é hora,
Não sobrou pra janta.
Devorou os pratos limpos,
Desvirtuou as boas lembranças.
A claridade afastou o cálice,
As bocas se limitaram.
Expandir,
Renegociar,
Pedir pressa,
Deixar tudo para trás,
Não se esconder atrás de portas.
Encarar as faces,
Repousar os medos,
Sem desperdício.

Descrição

Arranjo da expressividade do subconsciente sem controle exercido pela razão. Esta que efunde para o fundo, para as margens, do lado oposto, para dentro, que flui do pensamento, um estado transitório de mudanças.

sexta-feira, 3 de abril de 2009

Condolência

Nessa constância diária, encontrei-me
presa em uma encruzilhada,
duas forças me atingiam de frente,
dois caminhos me levavam à nada.
Não adianta fazer a escolha certa,
Às vezes, chegamos num ponto, no qual
não existem mais escolhas.
O risco é a possibilidade mais concreta.
Quantas vezes nos paramos para buscar respostas,
e nos convencemos que é melhor esquecermos das perguntas?
Já foram tantas, que nem me lembro mais.
Agora, isso não importa. As respostas mudaram de forma,
inundaram um novo contexto, e o meu já é passado.
O depois nunca chegava, e eu cheguei além do depois.
De tanto cochilar, acabei dormindo no ponto.
Acabei me esquecendo que era necessário me preocupar.
Até quando deixaremos de pensar?
Até quando isso for conveniente, ou até chegar o dia
que não haverá mais condição de adiar.
Será necessário se abrir, para que se encontre verdadeiramente,
Para que assim, seja possível enganar à todos,
e não enganar à mais ninguém.